quinta-feira, 5 de julho de 2012

os irmãos siameses ou eu e tu, tu e eu

Entrega dos atores na expressão bufa da diferença


16 a 18 de Novembro - Sala Multiuso Sesc Palladium
2 a 4 de Novembro - Teatro Nossa Senhora das Dores
22 de Junho a 15 de Julho - Teatro Icbeu


Com o assumido desejo de refletir sobre as diferenças a Cia. Verbo de Teatro traz ao palco uma adaptação do conto “A história de dois irmãos siameses”, de Tristan Bernard, que chama a atenção pela expressiva entrega dos atores. As figuras bufonescas e expressionistas criadas por Amélia Corrêa, Anair Patrícia, Elisângela Souza, Janaina Starling, Jair Gomes e Luciano Vivacqua valem o ingresso. Seus corpos estranhos inspiram a curiosidade e têm a sutil inclinação de nos fazer gostar do que é estranho, gostar do diferente.

A adaptação de Fernando Limoeiro para o conto de Tristan Bernard presenteia o público com um pequeno prólogo onde o dramaturgo dá vida à Família Zoffáni, uma trupe de teatro que irá representar o conto sobre os irmãos siameses em uma peça.  Mas a culatra pela qual saiu o tiro é que seguramente esse pequeno prólogo é o ponto alto da peça. As figuras que nos são apresentadas através de uma direção de cena segura, figurinos e maquiagem belíssimos e texto “estrambótico”, parafraseando o autor, nos impacta de forma tão arrebatadora que a sequência do espetáculo não consegue manter a mesma vitalidade.

Os corpos bufonescos, a maquiagem e o figurino nos remetem ao expressionismo e esta referência está também na interpretação e maneira de lidar com o texto. O termo alemão “drama de grito” (Schrei-Dramen) empregado para caracterizar algumas das peças nos primórdios do expressionismo vale também para esta montagem. O texto é gritado e, se em um primeiro momento traz uma boa impressão, ao longo das quase duas horas de peça soa um pouco excessivo.

Curiosamente, diante de outras escolhas estéticas acertadas, o cenário não acompanha. As cores vivas dos cubos dianteiros parecem incoerentes aos tons predominantemente escuros dos personagens. E há mesmo um problema nesse setor, a parede erigida no palco cria o atrás da cena, mas não parece necessariamente funcional. A textura pela qual é formada é tão curiosa que, pelo tamanho e engenhosidade, deixa a impressão de uma clara escolha dos realizadores que não é clara para o público e, se tem algum significado, dificilmente alcançará a plateia. A iluminação tem efeitos ousados, mas em geral peca pelo excesso de luz e cores, enquanto a ação cênica pede um ambiente mais sóbrio. Outro incômodo são os muitos blackouts que a direção recorre para solucionar trocas de cena e personagens, aumentando a sensação de longa duração da peça.

O destaque de um ou outro ator não tem grande relevância à medida que o espetáculo consegue uma forte unidade de interpretação. Quando surgiu, o expressionismo tinha o objetivo de fundar um teatro não convencional. É curioso que cem anos depois, após diversas apropriações, sempre que identificamos algumas de suas referências no palco, elas ainda levam consigo essa “expressão”. Em “Os irmãos siameses ou eu e tu, tu e eu” gostamos do que não é convencional, neste caso o texto que inventa palavras e a atuação carregada e entregue dos atores.

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