04 a 13 de Janeiro - Sala Multiuso Sesc Palladium
6 a 16 de Dezembro - Spetáculo Casa de Artes
No
vídeo projetado na porta de entrada do teatro o grupo de atores nos sugere
aquilo que pode ser o mote do espetáculo: é possível estabelecer relações
humanas verdadeiras através do distanciamento de uma mediação técnica?
Intrínseca, essa pergunta perpassa o espetáculo através de quatro personagens
que vão figurar em mundos particulares. Apesar de dividirem o mesmo palco,
estão em espaços cênicos diferentes e não vão se olhar nos olhos; vão buscar se
relacionar através de celulares, computadores, câmeras e projeções ao vivo.
Apesar
de certo formalismo na concepção das cenas a proposta é instigante. Em
dramaturgia não linear pautada nas possíveis relações inerentes dos
dispositivos tecnológicos, o espetáculo alcança o público pela empatia dos
personagens que, perdidos e solitários, por vezes acabam se tornando risíveis. Como acontece, por
exemplo, na divertida cena em que Alexandre Vasconcelos se atrapalha enquanto
prepara uma simples vitamina de banana, seguindo à risca um livro de receitas.
No geral os atores imersos na proposta vão fundo na busca de revelar a
massificação e alienação dos personagens.
Priscilla
D’Agostini chama atenção pela entrega, protagonizando cenas difíceis como o bom
momento em que dubla uma projeção de si mesma, revelando nova faceta da
personagem. Bem disposto Glauco Mattos sobressai em movimentos precisos,
aplicando desenvoltura corpórea na execução das ações. No bom elenco o destaque
é Fafá Fernandes que tem maior presença e domínio de texto, dando organicidade
à encenação midiática. Atriz versátil e sem preconceitos, ganha na experiência
diária porque sabe transitar em produções dos mais variados gêneros,
construindo e se formando nos palcos, uma atitude que serve de exemplo a ser
seguido por muitos de seus colegas de classe.
Na
visível experimentação que o espetáculo submerge, fica a vontade de ver melhor
explorado alguns recursos interessantes, como a projeção no corpo dos atores,
cujas fotos do programa da peça sugerem ter alcançado caminhos ainda mais belos
e curiosos. As soluções para mudança de cena que propõe movimentação dos
atores, luz baixa com efeitos de gobo (que vem acompanhando as últimas criações
de Felipe Cosse) e a cenografia sendo arrastada de um lado para o outro apontam
o desejo da direção de Júlio Viana em instaurar uma atmosfera contemporânea.
Infelizmente o recurso não se sustenta e acaba fazendo coro ao formalismo já mencionando
que nesse momento já se aproxima de ficar um pouco chato e repetitivo.
O
título da peça remete aos tripulantes da nau Argo de Jasão, aqueles que viveram
muitas aventuras e conheceram muitos mundos em busca do carneiro de ouro.
Procurando alguma significação mais elaborada, penso que os personagens de
“Argonautas de Um Mundo Só” navegam pela world
wide web e, ainda que compartilhem da promessa de grandes aventuras
virtualizadas, mantêm-se presos ao seu mundo físico.
A
parafernália em cena e a concepção de cenas esteticamente midiatizadas podem
chegar ao espectador com certo distanciamento; um teatro muito cerebral a
princípio, mas que se desenvolve, e no terço final do espetáculo consegue virar
a chave e dar sua mensagem com soluções mais simples diante da referência
apresentada no começo.
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