sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

eu não sou cachorro não

Musical brega traz a marca do diretor Fernando Bustamante em boa produção

02 de Março - Grande Teatro SESC Palladium
02 a 25 de Novembro – Teatro Dom Silvério

Empreendedorismo é uma palavra que pode ser associada ao diretor Fernando Bustamante. Nos últimos anos vem se dedicando à profissionalização do teatro musical em Belo Horizonte, sempre trazendo aos palcos boas produções ligadas ao gênero. Alguns dos espetáculos que montou foram reconhecidos e premiados, além de conquistar sem reservas grande parte do público de teatro infantil. Dentre eles estão “A Pequena Sereia”, em versão estendida e pocket, “Lampiãozinho e Maria Bonitinha” e “A Arca de Vinícius”.

Os primeiros minutos de “Eu não sou cachorro não” dão vestígios de que tal empreendedorismo nos levará, mais uma vez, para ótimos caminhos. Com recursos próprios o diretor realiza uma superprodução, aplicando visível esforço em um cenário grande, correto figurino, iluminação sofisticada e, somando atores e bailarinos, contabiliza mais de quinze pessoas em cena. Entre eles Tania Alves, uma atriz de projeção nacional, que distante dos palcos mineiros há muitos anos reaparece cantando e atuando com um personagem denominado “o furacão de Buenos Aires”.

A peça aposta no bom argumento de Leo Mendonza que se propõe a costurar a dramaturgia em cima de músicas bregas de compositores brasileiros, como Waldick Soriano, Agnaldo Timóteo e Wando. Pena que o texto não acompanha o argumento e a trama é simplória, assumindo a clara função de apenas servir de escada para as canções, onde se percebe a preocupação da equipe em priorizar a musicalidade em detrimento do teatro.

E é esse o maior deslize do espetáculo. O que não é bom e desvaloriza a montagem é o teatro em si. Focado em fazer os atores cantar bem, o espetáculo peca na construção dos personagens, na ação e reação, naquilo que deve ser o elemento chave de qualquer teatro, seja ele musical ou não: o jogo. Nessa toada o jovem protagonista canta muito bem, mas como intérprete não está à altura da produção e é com certeza um dos mais fracos em cena. Tania Alves tem bons momentos, mas parece perder força na escolha da personagem argentina que não alcança o tom e potência do “furacão” sugerido pelo texto. Seu partner, Leo Mendonza, parece colar uma máscara enrugada no rosto para expressar os mais variados sentimentos. Com a mesma expressão piedosa busca dizer tanto que ama quanto que sofre ou lamenta a perda de sua amada.

O destaque do elenco principal é a atriz Jai Baptista, que consegue cantar bem e ainda se fazer crer, conquistando a simpatia do público que tem diante de si um elenco tão irregular. No geral as coadjuvantes femininas estão mais seguras e à vontade que os masculinos, também marcados por más interpretações. Tamanha a dificuldade em atuação que muitas vezes os bailarinos e bailarinas que participam sem fala de determinadas cenas manipulam maior poder de convencimento que os ditos atores.

Ainda assim, com bom desenho de cena associado à concepção coreográfica e forte encenação, o espetáculo atinge a catarse através das canções bregas que permeiam o imaginário da plateia. Um elemento da ficha técnica que merece ser citado é a iluminação que sabe aproveitar o cenário para valorizar planos e construir atmosferas.

Fernando Bustamante parece ter percebido que os atores mineiros não têm a devida formação para o estilo musical e, para solucionar este problema, foi pioneiro em criar uma escola para tal fim, o CAMA – Centro de Atividades Musicais e Artísticas. A iniciativa que deve ser reconhecida e reverenciada poderia servir como um ponto de equilíbrio para as produções do diretor, formando mais atores que saibam cantar do que cantores que não sabem atuar. 

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