02 de Março - Grande Teatro SESC Palladium
02 a 25 de Novembro – Teatro Dom Silvério
02 a 25 de Novembro – Teatro Dom Silvério
Empreendedorismo
é uma palavra que pode ser associada ao diretor Fernando Bustamante. Nos
últimos anos vem se dedicando à profissionalização do teatro musical em Belo
Horizonte, sempre trazendo aos palcos boas produções ligadas ao gênero. Alguns
dos espetáculos que montou foram reconhecidos e premiados, além de conquistar sem
reservas grande parte do público de teatro infantil. Dentre eles estão “A
Pequena Sereia”, em versão estendida e pocket, “Lampiãozinho e Maria Bonitinha”
e “A Arca de Vinícius”.
Os
primeiros minutos de “Eu não sou cachorro não” dão vestígios de que tal
empreendedorismo nos levará, mais uma vez, para ótimos caminhos. Com recursos
próprios o diretor realiza uma superprodução, aplicando visível esforço em um cenário
grande, correto figurino, iluminação sofisticada e, somando atores e
bailarinos, contabiliza mais de quinze pessoas em cena. Entre eles Tania Alves,
uma atriz de projeção nacional, que distante dos palcos mineiros há muitos anos
reaparece cantando e atuando com um personagem denominado “o furacão de Buenos
Aires”.
A
peça aposta no bom argumento de Leo Mendonza que se propõe a costurar a
dramaturgia em cima de músicas bregas de compositores brasileiros, como Waldick
Soriano, Agnaldo Timóteo e Wando. Pena que o texto não acompanha o argumento e
a trama é simplória, assumindo a clara função de apenas servir de escada para
as canções, onde se percebe a preocupação da equipe em priorizar a musicalidade
em detrimento do teatro.
E
é esse o maior deslize do espetáculo. O que não é bom e desvaloriza a montagem
é o teatro em si. Focado em fazer os atores cantar bem, o espetáculo peca na construção
dos personagens, na ação e reação, naquilo que deve ser o elemento chave de qualquer
teatro, seja ele musical ou não: o jogo. Nessa toada o jovem protagonista canta
muito bem, mas como intérprete não está à altura da produção e é com certeza um
dos mais fracos em cena. Tania Alves tem bons momentos, mas parece perder força
na escolha da personagem argentina que não alcança o tom e potência do “furacão”
sugerido pelo texto. Seu partner, Leo
Mendonza, parece colar uma máscara enrugada no rosto para expressar os mais
variados sentimentos. Com a mesma expressão piedosa busca dizer tanto que ama
quanto que sofre ou lamenta a perda de sua amada.
O
destaque do elenco principal é a atriz Jai Baptista, que consegue cantar bem e
ainda se fazer crer, conquistando a simpatia do público que tem diante de si um
elenco tão irregular. No geral as coadjuvantes femininas estão mais seguras e à
vontade que os masculinos, também marcados por más interpretações. Tamanha a
dificuldade em atuação que muitas vezes os bailarinos e bailarinas que
participam sem fala de determinadas cenas manipulam maior poder de
convencimento que os ditos atores.
Ainda
assim, com bom desenho de cena associado à concepção coreográfica e forte encenação,
o espetáculo atinge a catarse através das canções bregas que permeiam o
imaginário da plateia. Um elemento da ficha técnica que merece ser citado é a
iluminação que sabe aproveitar o cenário para valorizar planos e construir
atmosferas.
Fernando
Bustamante parece ter percebido que os atores mineiros não têm a devida
formação para o estilo musical e, para solucionar este problema, foi pioneiro
em criar uma escola para tal fim, o CAMA – Centro de Atividades Musicais e
Artísticas. A iniciativa que deve ser reconhecida e reverenciada poderia servir
como um ponto de equilíbrio para as produções do diretor, formando mais atores
que saibam cantar do que cantores que não sabem atuar.
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