quinta-feira, 8 de novembro de 2012

os bem-intencionados

Lume Teatro comemora 27 anos com a força de um grupo maduro ainda disposto ao risco 

27 e 28 de Julho - União Fraterna Bailes – SP
01 de Agosto a 30 de Setembro – Sesc Pompéia

Depois de anos desenvolvendo projetos menores, com no máximo quatro atores, é um prazer rever o Lume reunindo todo o elenco em cena. Carlos Simioni, Jesser de Souza, Ricardo Puccetti, Renato Ferracini, Ana Cristina Colla, Naomi Silman e Raquel Scotti Hirson trazem para o palco de “Os Bem-intencionados” a confluência de suas pesquisas de 12 anos sobre o bufão  coerentemente organizadas por dramaturgia e direção da mineira Grace Passô, do grupo “Espanca!”, de Belo Horizonte.

A constatação é que, assim como as figuras desenhados no palco, o Lume é um grupo bem intencionado, atores de meia-idade, mas com a disposição criativa de jovens atores. Uma entrega pessoal incrível. Conscientes de que aquilo que estão fazendo está próximo ao ridículo assumem o risco, e é essa escolha que torna o espetáculo tão bom. De acordo com o programa da peça a construção dos personagens teve início em 2002. Trata-se de artistas fracassados que sonham em ser cantores, se encontram em um bar e acabam se tornando amigos, compartilhando sonhos e a crueza do cotidiano. Ainda segundo o programa, a pesquisa passou por várias etapas, foi deixada de lado e retomada várias vezes, e só encontrou meios de se realizar agora, dez anos depois. Que bom!

A trilha sonora ao vivo, a boa ambientação cenográfica, que utiliza do espaço da União Fraterna Bailes (que em 2007 abrigou o filme “Chega de Saudade” de Laís Bodansky) como espaço cênico,  somada a proposta de disposição da plateia como cliente do bar, trazem para o espectador um senso de participação. Identificar esse senso de participação, olhando para as outras pessoas da plateia completamente imersas no acontecimento vivo que experimentam juntas na frente de todos, é um alento para quem acredita no teatro.

Um tom de autoajuda, mas de bom gosto, que acompanha a carreira da diretora e dramaturga Grace Passô é materializado mais uma vez com frases de efeito repetida diversas vezes: “Hei, Boy, você é o que você quer ser!”. O tema é explorado até o limite e, em associação às cenas fortes e à música cantada ao vivo pelos atores, é capaz de emocionar até mesmo o público mais frio.

Entre os atores os destaques ficam para Jesser de Souza e Ricardo Puccetti que, ajudados pela dramaturgia, apresentam as figuras exóticas com dramas mais coerentes e bem amarrados. Carlos Simeone é uma espécie de coadjuvante de luxo; como um mestre de cerimônias, dono do bar, assiste à boa parte das cenas com interferências pontuais, mas incisivas. A protagonista das melhores cenas é Ana Cristina Colla; fica para ela os momentos de maior risco, manipulando rosas e facas em cenas fortes que mobilizam o público. Em outro bom momento, que talvez seja o ápice da peça, Ana Cristina entra em um transe consciente e contagiante que aos poucos vai envolvendo os outros atores e a plateia em um desnudamento sincero e impactante. 

A intensidade da cena retrata bem a entrega desse grupo maduro e contundente. O Lume Teatro mostra em “Os Bem-intencionados“ que é ainda propenso ao risco, capaz de aplicar a bagagem técnica de anos de pesquisa a um despojamento jovem e bem-intencionado.

2 comentários:

  1. Olá, Bento Coimbra. Obrigado por suas palavras encorajadoras e seu olhar sensível ao nosso trabalho. Um abraço. Jesser

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  2. olá Jesser,
    quanta honra receber seu comentário. o espetáculo de vocês me tocou muito, principalmente no que tange uma relação vertical com a arte. técnica e emoção juntos em despojamento.
    abraço!
    bento

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