domingo, 4 de novembro de 2012

vulgaridades sublimes

Machado de Assis revisitado em boa forma

05 a 27 de Fevereiro - Teatro Júlio Mackenzie SESC Palladium
26 a 28 de Outubro - Teatro Sesi Holcim
03 e 04 de Novembro - Teatro João Ceschiatti

Com o mérito de buscar adaptar parte da obra de Machado de Assis para o teatro, “Vulgaridades Sublimes” da Insensata Cia de Teatro, se relaciona com os contos “Pai Contra Mãe” e “A Cartomante” para criar imagens através de um bom desenho de cena. Combinando a fisicalidade dos atores, a transparência do tecido que compõe o cenário, as cores do belo figurino e a coerente iluminação, a direção de Marcelo do Valle faz suaves composições imagéticas, “pintando” as cenas como quadros cênicos.

Os contos escolhidos parecem ter a força necessária para uma encenação, mas para tanto precisam ser realmente adaptados. É uma característica de grande parte dos contos de Machado de Assis acabar em suspensão. São muito bem preparados em sua apresentação, situando personagens e atmosfera, mas quando o problema é colocado não existe grande desenvolvimento, a estória se resolve e o conto acaba ali. Essa é uma característica difícil de realizar no teatro. Em “Vulgaridades Sublimes” sentimos falta de desenvolvimento. Quando o problema se instaura, enquanto público, não temos tempo de compartilha-lo antes de vê-lo solucionado. A sensação é que um único conto daria uma peça inteira e que da maneira com que são mostrados ficam superficiais.

Dentro dessa perspectiva, a construção dos personagens, que no geral é bem feita, peca a medida que carrega muito nas emoções. Uma tentativa de acompanhar os acontecimentos fortes e próximos uns dos outros. A direção permite que os jovens atores se percam em felicidade e tristeza demais. Muito grito, muito choro, que ficam ainda maiores de acordo com a característica intimista e pequeno tamanho do teatro escolhido para a apresentação. Assim o destaque entre os atores fica para as coadjuvantes Jú Abreu e Dani Guimarães que conseguem ser entendidas sem lançar mão de grandes exageros, tornando a cena mais crível.

Dentre os elementos de encenação chama a atenção o cenário, composto por tecidos translúcidos esticados verticalmente. Simples, bem utilizado e bastante funcional é capaz de esconder e revelar utilizando apenas um refletor. Colabora para a atmosfera de traição que dissemina intenções veladas, além de criar planos físicos utilizados, por exemplo, para a caçada da escrava fujona.

Por fim, a peça é uma boa estreia da Insensata Cia de Teatro que acerta na escolha do autor e na composição cênica, se perde em adaptação e exageros de interpretação, mas traz a cena uma produção honesta que associa trabalho e entrega pessoal, indispensáveis ao fazer teatral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário