3 de Outubro a 4 de Novembro - CCBB - RJ
1 a 23 de Setembro - Sede do Espanca! - BH
“O Líquido Tátil”, novo espetáculo do
Espanca!, é resultado do encontro do grupo com o diretor argentino Daniel
Veronese que também assina o texto, escrito em 1997. Curioso é que o que realmente
salta aos olhos e motiva o boca a boca após a apresentação é a qualidade, já
conhecida, dos atores em cena.
A atriz Grace Passô destaca-se de seus partners à medida que apresenta os
contornos de uma mulher neurótica aficionada por cachorros. Seu tato com as
palavras ditas é como sempre muito bom, dando nuance e peso a cada coisa. Seguindo
um ritmo alucinante e convincente ela nos faz crer e participar da proposta
metalinguística do texto, carregando-a de emoção. A atriz divide a cena com Gustavo
Bones e Marcelo Castro que também convencem, captando a plateia com personagens
consistentes que atingem coerência em um texto com lampejos de absurdo.
Arriscamos dizer que o primeiro será mais lembrado pelo carisma e prazer que
manipula no palco, convidando o público para um jogo de troca e cumplicidade, a
nosso ver, essenciais ao fazer teatral.
A feia encenação parece ser uma pesquisa do
diretor que repete em “O líquido Tátil” a estética cenográfica de “Los hijos se
han dormido” que se apresentou na cidade, compondo a programação do FIT-BH 2012.
Na receita de um realismo que não é real, uma espécie de compensado depreciado,
inclusive dramaturgicamente em uma discussão do real, é chutado e quebrado aos
olhos do público. Verdadeiramente sujo, feio e digno de depreciação é somado a
móveis que podem ter sido encontrados em um “topa-tudo” e que parecem querer
situar a cena em uma classe média, que deve morar mais na Argentina do que no
Brasil, onde as linhas de crédito das “Casas Bahia” vêm deixando tudo mais
bonitinho. Seguindo o tom da cenografia, o figurino é estranho, mas cumpre um
papel realista de certo desleixo “cotidiano” que se alinha à composição dos
personagens.
A dramaturgia tem uma estrutura forte, mas se
perde no aspecto semântico. Os percalços das personagens, cada uma enfrentando
a sua própria neurose, cada uma enfrentando seu trauma particular na realidade
da família – composta por marido, esposa e irmão do marido – se apresentam
interessantes em um primeiro momento, mas, apesar das resoluções, às vezes, até
surpreendentes a que chegam, não diz muito a que vieram. Ao fim da apresentação
saímos com a sensação de que falta um querer dizer, um querer se posicionar,
passando em branco alguma tentativa de comunicação e deixando claro que o
interesse, expresso pelo grupo, era mais no trabalho com o diretor e a arte
latino-americana do que na necessidade de discussão de algum tema específico.
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