Companhia Brasileira de
Teatro associa dramaturgia intrigante e boa atuação para discutir a banalidade de
uma família na passagem do tempo
16 de Junho à 15 de Julho - Sesc Belenzinho - SP
De
saída o espetáculo "Isso te interessa?"
traz a cena um ótimo texto, dos melhores entre os que usam recursos épicos em
traços de contemporaneidade. À exemplo de alguns dos principais grupos do país,
como Cia dos Atores ("A Devassa" e "A Primeira Vista") e Espanca! ("O líquido Tátil"),
a Companhia Brasileira de Teatro opta nessa montagem por uma dramaturgia voltada
para o ser humano e seus apartamentos, a passagem do tempo no retrato de uma
família que se deteriora.
De
fato, essa é mesmo uma questão importante do nosso tempo, e parece ter ficado
colada na pena dos dramaturgos contemporâneos que preferem falar da sociedade
sem discutir questões sociais, focando no eu, seus anseios, sonhos e traumas.
Em "Isso te interessa?" o filho que
parte para estudar fora e evidencia a ansiedade da mãe ou a feiura velada da
filha que o pai não consegue dizer, são mecanismos da dramaturgia para ser
universal retratando apenas o indivíduo. Um dispositivo que vem sendo manipulado
com maestria pelo grupo inclusive em outros trabalhos.
A
nudez dos atores tem presença forte durante toda a encenação, mas a partir de
um segundo terço da peça deixa de ser notada. Banaliza-se, e serve para nos
dizer que apesar da ousadia de realizar uma peça completamente sem roupa, o
figurino não faz falta nenhuma. O caso é e verdadeiro que os atores Giovana
Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini dão conta do recado. As
interpretações precisas dão sentimento à declarada frieza do texto marcado
pelas falas na terceira pessoa. A opção por dizer as rubricas é acertada mesmo
que, por ora, não saibamos precisar se a escolha vem do autor ou do diretor.
Seguindo
a linha da economia nos elementos de linguagem, a boa direção de Marcio Abreu opta
por um cenário simples composto por poucos móveis, já que o texto, por vezes
bastante descritivo cumpre a função de localizar a cena. Da mesma forma, a
iluminação concentra-se em demarcar a cena, ausentando-se do excesso de efeitos
para apoiar-se em cores pontuais quase inexistentes.
Ao
final, com alguma emoção despendida, temos ao mesmo tempo a sensação de
identificação e distanciamento. Uma dramaturgia intrigante que não inova, mas
reloca o épico contemporâneo há um lugar de respeito. Com essa montagem, desde
a escolha e tradução do texto de Ronelle Renaude, passando pela boa encenação e
atuações precisas a Companhia Brasileira de Teatro deixa a impressão de um
coletivo inteligente e disponível, ainda capaz de experimentação.
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