domingo, 30 de setembro de 2012

rei lear

Montagem da Cia Lúdica com quatro atores convidados atenua texto de Shakespeare
26 de Janeiro - Praça José Verano (Barreiro)
23 de Fevereiro - Praça da Economiza (Santa Mônica)
24 de Fevereiro - Parque Municipal (Centro)
15 de Setembro a 7 de Outubro - Praças de BH

Essa transposição da grande tragédia shakespeariana para a rua alcança o público pelo tom cômico que seus personagens desenham. Alinhado a uma herança mineira que vem desde a adaptação histórica de Romeu e Julieta do Grupo Galpão que, no maior êxito de sua carreira, transformou a tragédia do bardo inglês em um espetáculo leve e colorido, essa montagem da Cia. Lúdica dos Atores se propõe suavizar o peso da história de Lear, que incapaz de distinguir os amigos dos inimigos acaba cometendo erros fatais que levam seu reino à desgraça.

Levando-se em conta uma adaptação para a rua, a composição dos personagens dirigidos para uma escolha estética farsesca é de bom tom. Assim, o Lear de Leonardo Horta é simpático e convincente, a Cordélia de Julia Marques encontra a pureza e delicadeza necessárias à personagem, as irmãs Goneril e Regana de Milena Santana e Gabriela Dominguez disseminam bem o seu cinismo. Boas ainda as aparições do conde de Gloucester e dos bobos que abusam dos recursos da farsa em suas construções.

Do ponto de vista da encenação a direção se mostra confusa. A trilha sonora não consegue unidade, considerando que vai da música clássica a temas de filmes hollywoodianos, passando por sons de helicóptero e uma estranha sirene, utilizada para a troca de cenas, que deixa rastros de certo mau gosto. O cenário simples fica pequeno para dar conta de centralizar a atenção do espectador à ação da peça, deixando os atores desprotegidos em relação aos demais atrativos visuais que podem capturar o olhar da plateia, se tratando de uma peça na rua.

No sentido oposto o figurino se perde em uma profusão de cores, materiais e texturas mais uma vez confusas e incoerentes. Mesmo a roupa base, comum a todos os atores, está alinhada à escolha de excesso de informação e foge do básico à medida que compõe uma camisa em retalhos de quatro cores diferentes. Intrigante também é a sua subutilização, servindo apenas à troca dos demais figurinos e não sendo utilizado em ocasiões neutras, por exemplo, para diferenciar o momento em que um dos atores é narrador e não representa nenhum personagem.

Algumas adaptações textuais, como o disfarce de louco de Edgar convertido em Zé Goiaba, e a aproximação do reino da Bretanha à cidade de Belo Horizonte, dividindo seus limites do Barreiro de Baixo à Venda Nova, têm a virtude de aproximar o público, tendo-se em conta a dificuldade que boa parte da plateia terá de acompanhar os acontecimentos e as incursões dos atores que se revezam em vários personagens. Amenizar a culpa, a loucura, a fúria e a dor da tragédia shakespeariana através da farsa, alçando bons momentos de graça e jogo cênico, é o recurso que essa montagem utiliza para nos convidar a revisitar O Rei Lear, de Shakespeare. 

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