5 a 14 de Outubro - Teatro João Ceschiatti
Comemorando 10 anos de existência, a Cia
Clara de Teatro remonta um de seus espetáculos de maior êxito e importância.
“Coisas Invisíveis”, com direção de Anderson Aníbal, parece ter dado origem a
um tipo de teatro poético e minimalista que até hoje influencia vários grupos
na capital mineira, entre eles, o reconhecido Espanca!, cujos atores, Grace
Passô, Marcelo Castro e Gustavo Bones, estiveram na companhia e ajudaram a
construir essa forma de se fazer teatro que vai do texto emotivo, voltado para
o eu, às interpretações contidas.
Passado de lado, a remontagem de Coisas
Invisíveis com os atores convidados Camile Gracian, Carol Castro, Felipe Ávlis
e Leonardo Fernandes ainda alcança o público pelos mesmos motivos: é poético,
bonito e minimalista. O texto fragmentado de Gustavo Naves Franco é bem
amarrado e, em tom jovial – um teatro feito por jovens para jovens, toca em
questões comuns ao ser humano, como a força das palavras não ditas nas relações
amorosas e a dificuldade de se lidar com a perda de pessoas queridas.
Com olhar distanciado, a sensação que temos é
a de que a peça parece feita para comover. As atuações visivelmente ditadas
pela direção carregam um desejo claro de carisma e empatia com o público. Os
atores sustentam um sorriso e brilho nos olhos durante todo o tempo. A escolha da
trilha sonora é bonita e melancólica, mas falta atrito, tornando-se simplória à
medida que alinha texto e emoções sugeridas com a letra escolhida para fazer
jus ao que acontece em cena.
A encenação é simples: um tapete branco que
delimita a cena e pode fazer referência ao Carpet
Theatre de Peter Brook que no início dos anos 1970
realizou uma viagem
à África, apresentando espetáculos que
tinham como único recurso um tapete que delimitava o espaço cênico. Além do
tapete “Coisas Invisíveis” usa pequenos objetos cênicos e uma iluminação
igualmente simples que lança mão de muito equipamento para criar sutileza.
Nessa lógica a geral pode ter 17 refletores para não fazer caber uma única
sombra mais dura, não caber uma pequena parte escura assim como, também Brook,
demonstrou fazer quando trouxe seus espetáculos ao Brasil.
Podemos sentir a mão pesada da direção para
colocar e sustentar a delicadeza em cena. O espetáculo parece repetir a
estética e a interpretação contida de quase uma década. Podemos identificar os
mesmos signos. Do figurino às marcações, do tapete no chão à quase total ausência
de objetos cênicos, que se repetem a cada nova montagem. O que quase nunca se
repete são os atores, sempre jovens convidados para um “novo projeto”.
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