quarta-feira, 17 de outubro de 2012

coisas invisíveis

Remontagem do texto de Gustavo Naves Franco por Anderson Aníbal tem atores convidados e retoma minimalismo sem trazer novidades


5 a 14 de Outubro - Teatro João Ceschiatti


Comemorando 10 anos de existência, a Cia Clara de Teatro remonta um de seus espetáculos de maior êxito e importância. “Coisas Invisíveis”, com direção de Anderson Aníbal, parece ter dado origem a um tipo de teatro poético e minimalista que até hoje influencia vários grupos na capital mineira, entre eles, o reconhecido Espanca!, cujos atores, Grace Passô, Marcelo Castro e Gustavo Bones, estiveram na companhia e ajudaram a construir essa forma de se fazer teatro que vai do texto emotivo, voltado para o eu, às interpretações contidas.

Passado de lado, a remontagem de Coisas Invisíveis com os atores convidados Camile Gracian, Carol Castro, Felipe Ávlis e Leonardo Fernandes ainda alcança o público pelos mesmos motivos: é poético, bonito e minimalista. O texto fragmentado de Gustavo Naves Franco é bem amarrado e, em tom jovial – um teatro feito por jovens para jovens, toca em questões comuns ao ser humano, como a força das palavras não ditas nas relações amorosas e a dificuldade de se lidar com a perda de pessoas queridas.

Com olhar distanciado, a sensação que temos é a de que a peça parece feita para comover. As atuações visivelmente ditadas pela direção carregam um desejo claro de carisma e empatia com o público. Os atores sustentam um sorriso e brilho nos olhos durante todo o tempo. A escolha da trilha sonora é bonita e melancólica, mas falta atrito, tornando-se simplória à medida que alinha texto e emoções sugeridas com a letra escolhida para fazer jus ao que acontece em cena.

A encenação é simples: um tapete branco que delimita a cena e pode fazer referência ao Carpet Theatre de Peter Brook que no  início dos  anos  1970 realizou  uma  viagem à África,  apresentando  espetáculos  que tinham como único recurso um tapete que delimitava o espaço cênico. Além do tapete “Coisas Invisíveis” usa pequenos objetos cênicos e uma iluminação igualmente simples que lança mão de muito equipamento para criar sutileza. Nessa lógica a geral pode ter 17 refletores para não fazer caber uma única sombra mais dura, não caber uma pequena parte escura assim como, também Brook, demonstrou fazer quando trouxe seus espetáculos ao Brasil.

Podemos sentir a mão pesada da direção para colocar e sustentar a delicadeza em cena. O espetáculo parece repetir a estética e a interpretação contida de quase uma década. Podemos identificar os mesmos signos. Do figurino às marcações, do tapete no chão à quase total ausência de objetos cênicos, que se repetem a cada nova montagem. O que quase nunca se repete são os atores, sempre jovens convidados para um “novo projeto”.

No geral o que o trabalho da Cia Clara não tem e outros grupos que seguem a mesma linha já desenvolveram são os momentos de ruptura. Uma força contrária ao excesso de doçura. Em “Coisas Invisíveis” e outros espetáculos do grupo sentimos falta de uma explosão, um grito, um clímax, um certo descontrole que poderá potencializar as boas peças, tornando-as mais críveis.

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