21 de Setembro a 14 de Outubro - Teatro Marília
A
peça tem cheirinho de casa de Vó. Está tudo ali: café no bule, xícara de
esmalte com lasca do tempo, biscoito de polvilho e aroma de manjericão. Todos esses
elementos cenográficos são reais e compõem a atmosfera interiorana sugerida
pelo romance Por parte de Pai que deu
origem ao espetáculo homônimo da Cia Atrás do Pano.
Apesar
dos objetos realistas salta aos olhos a proposta de transformar os tecidos pendurados
no varal em cortinas que podem esconder ou revelar, por exemplo, a mesa da
cozinha ou, ainda, a belíssima parede vermelha rabiscada a mão – mais uma
referência ao texto de Queiroz. O recurso dos tecidos é potencializado pela
iluminação que se vale de sombras e velas para ocupar-se de temas que misturam
mistério, crença e religiosidade.
A
composição de cena é primorosa. A direção de Epaminondas Reis é segura e sabe
guiar o olhar do público através dos sons, da luz, dos pequenos movimentos que
um ator faz mesmo quando não é o detentor da ação principal. De passagem, as
figuras construídas pelos atores Antônia Claret, Paulo Thielmann e Myriam Nacif
têm a força de um elenco maduro e nivelado por cima. O destaque fica para o
carisma de Paulo Thielmann – o avô do silêncio, que apesar de proferir as
frases mais desconcertantes da literatura de Queiroz diz ainda mais quando não
diz. À altura estão as atuações de Antônia Claret, capaz de nos fazer esquecer
que é uma mulher enquanto encarna o garoto que nos conta a história, e de Myriam
Nacif, a avó de passo lento e personalidade forte.
Recentemente
a cidade de Belo Horizonte recebeu outra adaptação do mesmo romance de
Bartolomeu Campos de Queiroz realizada no Rio de Janeiro. Em produção grandiosa
com cenário de Ronaldo Fraga e direção de André Paes Leme, a mineira Nathália
Marçal assume sozinha a responsabilidade de contar a história. A ainda jovem atriz tem interpretação
honesta, mas aquém da profundidade do texto. O tom narrativo, em primeira
pessoa, é um desafio encarado de frente; entretanto, se perde no ritmo, por
vezes monocórdio, e na embocadura das palavras ditas, sem o peso que realmente
tem.
Caro Bento.
ResponderExcluirFazer teatro não é fácil... Sofrido até.
Mas vale a pena quando recebemos um comentário como o seu, que percebe com tanta sensibilidade a proposta de nossa montagem. Vida longa ao blog
Beijos,
Myriam Nacif
Grupo Atrás do Pano
oi Myriam,
Excluirobrigado pelas palavras cortezes.
entendo o que diz sobre a dificuldade e sofrimento do fazer artístico, o objetivo dos comentários é justamente valorizar o teatro de Belo Horizonte. todos os textos buscam gerar interlocução, reflexão e pensamento sobre as obras e dar um retorno maior que o simples aplauso. o desejo principal é contribuir para o formação de público, fomentando e valorizando o teatro. parabéns pelo espetáculo!
seguimos em frente.
abraço!