quarta-feira, 10 de outubro de 2012

ode marítima

A importância de um Teatro Físico na cena teatral belorizontina

8 a 11 de Outubro - Funarte - MG


É muito bom quando, diante de uma encenação teatral, conseguimos identificar meses de ensaios. É que o ofício teatral é ingrato. Muitas vezes olhamos para uma cena e só enxergamos algo ruim, exagerado, pretensioso ou displicente. Vamos atendo aos detalhes das atuações “canastronas”, do figurino Read Maid – de origem guarda-roupa velho/bazar, ou do cenário mal-acabado de compensado. São observações comuns que geralmente ofuscam o trabalho que deram porque não conseguem mostrar a labuta diária, a honestidade e o compromisso daqueles que realizaram a peça. Este não é um problema para Ode Marítima.

Nessa montagem do grupo Teatro da Figura o trabalho focado em pesquisa corporal é visível. Construções imagéticas coletivas, experimentações vocais integralizadas à ação, registros coreográficos e das técnicas de dança, como Contato-improvisação e Cavalo Marinho, vêm à cena e se mostram potentes. Não se pode negar que, por vezes, tal pesquisa assume a face de um exercício pré-expressivo que poderia ser aplicado em sala de aula, mas que não chega a comprometer o resultado final. Por essas características poderíamos remeter o trabalho à linha do Teatro Físico, que fundamentalmente tem poucos representantes mineiros e, por essa razão, torna-se importante na construção da cena local.

A inspiração na poesia de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, é clara, mas textualmente tímida. Diante das belas imagens as palavras ditas são quase desnecessárias, colaborando pouco para a construção do sentido. A potência vocal está nos cantos e arranjos das várias vozes que se mostram fracas quando é poesia/verbo o que sai da boca dos atores. De se esperar que na defesa da fisicalização do texto a voz atinja menor força do que a dispensada na presença física.

Curiosamente, um destaque dramatúrgico é a iluminação de Felipe Cosse e Juliano Coelho. Capaz de encher os olhos e intrigar a percepção do espectador tamanha a dualidade entre simples e complexo. Ora precisa, ora dispersa, dialoga com a fumaça e difusores utilizados, para atacar sem ser dura. Cria efeitos semânticos que ajudam a contar a história como a leitura das cordas entrelaçadas de uma embarcação, os respingos de luz solar que ultrapassaram a copa das arvores de uma floresta de índios, e a longínqua linha do tempo da cena final.

A encenação é interessante à medida que coloca a cenografia, figurino e trilha sonora como parte integrante da ação. Tais elementos são utilizados e até reutilizados pelos atores no jogo e composição cênica quando a direção de Juliana Pautilla apodera-se dos objetos e instrumentos para tratar de ambientar a cena. Na mesma linha apoia-se o figurino correto que alcança êxito quando se arrisca na fotografia de uma figura indígena que apenas cruza o palco em tom de mistério e ritualização.

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