8 a 11 de Outubro - Funarte - MG
É
muito bom quando, diante de uma encenação teatral, conseguimos identificar
meses de ensaios. É que o ofício teatral é ingrato. Muitas vezes olhamos para
uma cena e só enxergamos algo ruim, exagerado, pretensioso ou displicente.
Vamos atendo aos detalhes das atuações “canastronas”, do figurino Read Maid – de origem guarda-roupa
velho/bazar, ou do cenário mal-acabado de compensado. São observações comuns
que geralmente ofuscam o trabalho que deram porque não conseguem mostrar a
labuta diária, a honestidade e o compromisso daqueles que realizaram a peça.
Este não é um problema para Ode Marítima.
Nessa
montagem do grupo Teatro da Figura o trabalho focado em pesquisa corporal é
visível. Construções imagéticas coletivas, experimentações vocais
integralizadas à ação, registros coreográficos e das técnicas de dança, como Contato-improvisação e Cavalo Marinho, vêm à cena e se mostram
potentes. Não se pode negar que, por vezes, tal pesquisa assume a face de um
exercício pré-expressivo que poderia ser aplicado em sala de aula, mas que não
chega a comprometer o resultado final. Por essas características poderíamos
remeter o trabalho à linha do Teatro
Físico, que fundamentalmente tem poucos representantes mineiros e, por essa
razão, torna-se importante na construção da cena local.
A
inspiração na poesia de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, é
clara, mas textualmente tímida. Diante das belas imagens as palavras ditas são
quase desnecessárias, colaborando pouco para a construção do sentido. A
potência vocal está nos cantos e arranjos das várias vozes que se mostram
fracas quando é poesia/verbo o que sai da boca dos atores. De se esperar que na
defesa da fisicalização do texto a
voz atinja menor força do que a dispensada na presença física.
Curiosamente, um destaque dramatúrgico é a iluminação de Felipe
Cosse e Juliano Coelho. Capaz de encher os olhos e intrigar a percepção do
espectador tamanha a dualidade entre simples e complexo. Ora precisa, ora
dispersa, dialoga com a fumaça e difusores utilizados, para atacar sem ser
dura. Cria efeitos semânticos que ajudam a contar a história como a leitura das
cordas entrelaçadas de uma embarcação, os respingos de luz solar que
ultrapassaram a copa das arvores de uma floresta de índios, e a longínqua linha
do tempo da cena final.
A
encenação é interessante à medida que coloca a cenografia, figurino e trilha
sonora como parte integrante da ação. Tais elementos são utilizados e até
reutilizados pelos atores no jogo e composição cênica quando a direção de
Juliana Pautilla apodera-se dos objetos e instrumentos para tratar de ambientar
a cena. Na mesma linha apoia-se o figurino correto que alcança êxito quando se
arrisca na fotografia de uma figura indígena que apenas cruza o palco em tom de
mistério e ritualização.
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