sexta-feira, 19 de outubro de 2012

dois sóis: lugar algum

Remanescente do Grupo Intervalo (do falecido Ítalo Mudado) a Cia do Silêncio já nasce madura
14 de Fevereiro a 01 de Março - Teatro Júlio Mackenzie SESC Palladium
28 de Setembro a 07 de Outubro - Teatro Sesi-Holcim
12 a 21 de Outubro - Teatro Júlio Makenzie

Ao longo de mais de 25 anos o Grupo Intervalo, comandado por Ítalo Mudado, realizou cerca de 40 peças das quais, boa parte delas, com a participação, entre muitos outros atores, de Marcel Luiz, Marco Túlio Zerlotini e Pauline Braga. Com a morte do mestre os atores se dispuseram a dar continuidade ao trabalho, mas criando um novo grupo, a Cia do Silêncio.

A primeira incursão da nova trupe sem Ítalo é “Dois Sóis: Lugar Algum”, onde os atores, além de atuar, desenvolvem quase todas as outras funções necessárias para se realizar uma peça: texto, direção, iluminação, cenário e figurino. O destaque é o bom texto escrito por Marco Túlio Zerlotini, cuja temática, enraizada no choque de valores com final surpreendente, parece corresponder com o já clássico Agreste, do badalado Newton Moreno.  O triângulo amoroso vivido entre dois irmãos e uma mulher madura tem força dramática para capturar a atenção do público. Um dos recursos bem empregado são as elipses temporais que a estrutura textual sugere como na edição de um filme, localizando a passagem do tempo através do cabeçalho de uma claquete cinematográfica dita pelos atores: “cena 4, tomada 1”, por exemplo.

A integração do grupo é perceptível de tal forma que o cenário de bambu recortado, realizado por Luiz, abriga parte da iluminação, feita por Zerlotini. Juntos, cenário e iluminação, compõem uma encenação coerente com o texto ambientado na zona rural. As garrafas de cachaça, que poderiam ser de leite, são ainda mais funcionais à medida que assumem novos significados durante a apresentação. De acordo com sua utilização sugerem ação física aos atores, deixando a impressão de que poderiam ser até mais exploradas.

A direção de Marcel Luiz, que também divide a cena com Marco Túlio e Pauline, peca no ritmo e manipulação da energia. Permitindo que os atores circunscrevam um registro vocal muito próximo, situando pausas e respiração com a mesma pulsação, acaba por “chapar” as interpretações. A energia física individual de cada ator, que busca apoio no imaginário de figuras interioranas, alcança também quase o mesmo peso, onde poderiam variar entre força e suavidade; acaba por igualar-se em uma tensão contida prestes a explodir e, quando explode, também parece não atingir o clímax surpreendente que o texto sugere tão bem.

Com “Dois Sóis: Lugar Algum” a Cia. do Silêncio faz sua estreia, trazendo à cena a rica bagagem do Grupo Intervalo. Uma bela homenagem, à altura de Ítalo Mudado, o homem de teatro, com 65 anos de carreira, cujo trabalho e pensamento são um legado – direto ou indireto – a todos aqueles que hoje fazem teatro em Belo Horizonte.

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